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Estudos mostram possível impacto do microbioma intestinal no tratamento de dores crônicas

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A pesquisa ainda não dá certezas e o pesquisador alerta para a necessidade de mais ensaios clínicos. “É preciso dizer que mexer no microbioma dificilmente proporcionará alívio para todos, especialmente quando a dor crônica se torna intrínseca ao cérebro. Mas, dada a escassez de opções e os benefícios potenciais, é válido buscar uma abordagem focada no microbioma, que poderia melhorar e transformar o modo como entendemos, diagnosticamos e tratamos a dor crônica”.


 

Histórico científico
 

A conexão entre os micróbios intestinais e a dor crônica começou a se materializar há duas décadas em estudos científicos, com lentas evoluções.
 

De acordo com a Nature, cerca de 20 anos atrás, estudos com animais começaram a revelar que certas bactérias estimulam receptores de dor em células do intestino de uma maneira semelhante à morfina, entre outros mecanismos. Algumas pesquisas sobre dor visceral identificaram substâncias químicas específicas, produzidas por bactérias intestinais, que puderam promover ou suprimir dores. Os ácidos graxos de cadeia curta, por exemplo, que são produzidos quando certas bactérias digerem fibras, estimulam as células imunológicas a liberarem fatores pró-inflamatórios, enquanto os ácidos biliares suprimem a atividade dos nervos sensoriais. Os efeitos podem ser de longo alcance: esses metabólitos podem se infiltrar na circulação através do revestimento intestinal e cruzar a barreira hematoencefálica, alterando a permeabilidade de ambas as estruturas. Como resultado, o microbioma intestinal pode até influenciar a percepção da dor.
 

No caso da fibromialgia, a pesquisa de Minerbi sugere que o microbioma intestinal pode não apenas ajudar a aliviar a dor, como também auxiliar em seu diagnóstico. Em 2019, sua equipe descobriu que pessoas com fibromialgia têm microbiomas intestinais alterados, e que esses pequenos desequilíbrios se correlacionam com dor e fadiga e não com dieta, medicamentos ou outros fatores ambientais.
 

Para o pesquisador, “foi a primeira demonstração em humanos de que o microbioma intestinal pode modular a dor crônica generalizada e não visceral”.
 

Em um estudo de 2023, a equipe descobriu que pessoas com fibromialgia também tinham níveis mais baixos de ácidos biliares específicos no sangue em comparação com controles saudáveis e que quanto menor o nível desses ácidos biliares, mais intensa era a dor relatada. “Isso acontece porque alguns desses ácidos se ligam a neurônios na medula espinhal que suprimem a dor. Sem eles, a dor pode aumentar sem controle”, explica Minerbi. O estudo sugere que restaurar os níveis desses ácidos biliares pode ajudar a reduzir a dor da fibromialgia.
 

Para comprovar a relação, a equipe de Minerbi tentou transplantar matéria fecal de doadores saudáveis ​​em 14 mulheres com fibromialgia para tratar tais desequilíbrios do microbioma intestinal. Após cinco tratamentos quinzenais, 12 dos voluntários nesse estudo piloto, que não foi revisado por pares, relataram dor menos intensa do que antes. Um ensaio randomizado e controlado por placebo é o próximo.
 

Além disso, o grupo de Minerbi também está desenvolvendo um algoritmo de aprendizado de máquina para relacionar a dor crônica aos perfis do microbioma intestinal e outros marcadores sanguíneos. Até agora, a ferramenta diferencia apenas entre pessoas com fibromialgia e aquelas que não têm dor crônica. “O próximo passo é ver se podemos pegar alguém com dor crônica e dizer que tipo de dor crônica eles têm, o que é realmente a questão clínica. Para isso, estamos investigando o microbioma intestinal em várias condições de dor crônica, na esperança de encontrar semelhanças e mudanças distintas entre elas”, conclui Minerbi.

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