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Estudantes com altas habilidades e superdotação podem se beneficiar de intervenções para estimular sociabilidade, mostra pesquisa

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Naturalmente geniais, capazes de alcançar ótimos resultados com muito menos esforços e, por isso mesmo, destinados ao sucesso. Em linhas gerais, é assim que o senso comum concebe as trajetórias daqueles indivíduos que são classificados como possuidores de altas habilidades ou de superdotação. Porém, os cientistas que se dedicam a estudar de perto as capacidades cognitivas e as histórias de vida deste grupo – que segundo a Organização Mundial da Saúde pode compreender entre 3% e 5% da população mundial –  sabem que o quadro é mais complexo e nuançado, e que há áreas em que, talvez, essas pessoas experimentem mais dificuldades, e não menos.

Uma dessas áreas é a das habilidades sociais, isso é, o conjunto de comportamentos que nos permitem estabelecer interações de qualidade com as demais pessoas. A literatura científica sobre o tema mostra que há duas perspectivas dominantes entre os pesquisadores. Uma destas perspectivas sustenta que os superdotados experimentam um déficit em termos de suas habilidades sociais e interpessoais, e a outra crê que, na verdade, eles estão em vantagem neste quesito, em comparação com pessoas que não possuem altas habilidades.

Os pesquisadores que formam no primeiro grupo argumentam que certas características de personalidade, como originalidade, criatividade, alta capacidade de aprendizagem ou perfeccionismo, podem resultar em problemas como discriminação por parte dos colegas, isolamento social, desinteresse pelos conteúdos curriculares ou frustração em relação aos seus resultados. Os adeptos do segundo grupo dizem que esses indivíduos também podem apresentar traços benéficos para as interações sociais, como as habilidades para a liderança, a civilidade, o bom humor e a cooperação.

Foi essa discordância que chamou a atenção da pedagoga Vera Lúcia Capellini, docente da Faculdade de Ciências da Unesp, câmpus de Bauru. “Na ciência, a existência de um tema no qual há bastante discordância entre os pesquisadores é um indicativo de que é preciso estudá-lo mais a fundo”, diz ela, que é especialista em educação especial e coordena o grupo de pesquisa “A inclusão da pessoa com deficiência, TGD e superdotação e os contextos de aprendizagem e desenvolvimento”.

No Brasil, ainda são poucos os estudos que abordam essa temática. Em janeiro, Capellini publicou, em parceria com outros colegas do grupo, o artigo Social skills in gifted students, em que buscou avaliar a contribuição das atividades de enriquecimento curricular nas habilidades sociais de estudantes com superdotação. O estudo avaliou 17 alunos nessa condição com idades entre 7 e 15 anos, matriculados no ensino fundamental tanto em escolas públicas quanto particulares, bem como seus pais e professores.

A iniciativa abrangeu tanto atividades dentro do ambiente de ensino, como o estudo de teoria e instrumentos musicais, a elaboração de projetos de robótica e reforço de aulas de inglês, quanto também ações externas, como prática de esportes, idas ao teatro, visitas ao zoológico municipal e ao Observatório Didático de Astronomia localizado no câmpus de Bauru. O número de participantes e a quantidade de dias variou de acordo com as atividades.

Para avaliar as características comportamentais dos sujeitos, os pesquisadores empregaram o questionário Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). O instrumento foi elaborado para o rastreamento de determinados problemas comportamentais e de saúde mental de crianças e adolescentes, e possui versões específicas para serem aplicadas a alunos, pais e professores.

Os estudantes tiveram que responder ao SQD antes e depois das atividades de enriquecimento curricular. O instrumento atribuía pontuações de 0 a 40 para 25 itens divididos em escalas que cobrem cinco áreas: sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, problemas com colegas e comportamento pró-social. A soma da pontuação registrada nas escalas permitiu a classificação das crianças em três categorias: “Normal”, indicando nenhuma dificuldade; “Limítrofe”, apontando algumas dificuldades; e “Anormal”, indicando dificuldades significativas.

De acordo com os resultados, a intervenção resultou em uma melhora sensível na avaliação dos jovens a respeito de suas próprias habilidades sociais. Antes das atividades complementares, por exemplo, dois alunos reportaram terem sintomas emocionais; após se engajarem nas atividades, nenhum deles reportou esses sintomas. Ao mesmo tempo, três alunos haviam reportado problemas com colegas e depois das intervenções, apenas um.

Os familiares dos sujeitos estudados apontaram mais problemas nas habilidades sociais deles do que seus professores, ou mesmo do que os próprios sujeitos. Ainda assim, os familiares relataram melhoras em dois aspectos do comportamento social. Seis familiares haviam reportado problemas em sintomas emocionais e após o enriquecimento curricular, apenas quatro, já problemas com os colegas foram apontados por seis familiares, e depois das atividades, somente cinco deles. A avaliação dos professores, por sua vez, relatou piora após as atividades em dois temas: problemas de conduta (que, antes das atividades haviam sido apontados em apenas uma, e depois foram reportados em três)  e os chamados sintomas emocionais (que não fora apontado em nenhuma antes das atividades de enriquecimento, e posteriormente foram detectados em dois indivíduos).

Os pesquisadores, porém, são cautelosos em atribuir essas diferenças nas avaliações dos estudantes, pais e professores apenas ao enriquecimento curricular. Eles explicam que essas atividades não foram desenhadas exclusivamente para esse fim, e argumentam que outros fatores também podem ter influenciado o desempenho dos estudantes. Outras limitações que o estudo apresenta estão ligadas à ausência de um grupo controle e ao baixo número de participantes. Esta última característica, no entanto, é recorrente em estudos que envolvem indivíduos com superdotação. Ainda assim, os resultados das análises identificaram um bom repertório de habilidades sociais em todos os sujeitos participantes. Por outro lado, foram observados poucos problemas no aspecto comportamental, sendo a hiperatividade o mais prevalente.

Excesso de foco pode afastar colegas

Outra iniciativa voltada para esse público oferecida no câmpus é o projeto de extensão “Da identificação de estudantes com indicadores de altas habilidades/superdotação e suas áreas de interesses ao enriquecimento curricular: uma proposta interdisciplinar”. A atividade foi criada em 2014, juntamente com Olga Rodrigues, psicóloga e docente aposentada da Faculdade de Ciências de Bauru. O objetivo é estruturar um atendimento embasado em estudos específicos no campo das altas habilidades que garantisse direitos e atenção de qualidade a esse grupo.

A iniciativa oferece atividades em laboratórios do câmpus, colocando os alunos em contato com conhecimentos de ciência (como a robótica, por exemplo), mas também promove atividades fora do ambiente escolar, como visitas a museus e orquestras. Desde a sua criação, o projeto já atendeu mais de 300 alunos com altas habilidades. A maioria tem idades entre 7 e 12 anos e são encaminhados por suas famílias, pelas escolas ou por profissionais de saúde. O projeto também colabora com a produção de projetos de pesquisa de variados escopos, da iniciação científica a teses de doutorado, estruturados com diferentes abordagens. Entre os temas já investigados estão as habilidades sociais dos estudantes.

Leia a reportagem completa no Jornal da Unesp.

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