Uma das maiores preocupações de pais e mães quando estão esperando o segundo, terceiro – e as mais corajosas – ainda mais filhos é: como lidar com os mais velhos? A questão que assombra os pais se refere ao medo de que os irmãos com mais idade sofram pelo ciúme que naturalmente vem junto com a chegada de um bebê.
Histórias dramáticas sobre relacionamento entre irmãos fazem parte da cultura da humanidade, vide Caim e Abel, José e seus irmãos e até O Homem da máscara de ferro são só alguns dos exemplos que povoam o imaginário e reforçam o desejo dos pais em evitar esse sentimento entre seus rebentos.
Mais do que imaginação, qualquer um que não seja filho único é capaz de lembrar de situações que sentiu algo parecido em relação aos próprios irmãos. “Claro, ninguém duvida que pais atenciosos queiram muito que seus filhos tenham um bom relacionamento entre si. No entanto, muitas vezes, não esperam de fato que isso aconteça”, afirma a psicóloga e hipnoterapeuta Yafit Laniado, criadora da Relacionamentoria, consultoria especializada no relacionamento entre pais e filhos.
Yafit explica que os pais se acostumaram a considerar normal que os filhos mais velhos sintam que estão perdendo espaço para o bebê recém-chegado e que o ciúme é inevitável, sem que os maiores saibam lidar com este sentimento.
“Os pais se acostumaram a se preparar para todos os comportamentos indesejados que os mais velhos assumirão por conta do novo membro da família, já esperando algo complexo e difícil para eles. Inclusive, se um deles não apresentar reação, acreditam que seja pelo fato de a ‘ficha ainda não ter caído’ para ele.”
Em muitas famílias, a mudança comportamental motivada pelo ciúme do caçula é interpretada com alguns comportamentos: negativas para tomar banho, bagunça em seus brinquedos, xixi na cama e outros sinais que os próprios pais diagnosticam como regressão.
“Quando os pais esperam que esse tipo de alteração de comportamento aconteça e o aceitam passivamente, a criança simplesmente responde às expectativas. Por isso, é preciso que a primeira mudança venha dos pais”, destaca Yafit.
“Para começar, acredite que as crianças podem cooperar tanto ou mais do que um adulto, especialmente após o nascimento de um irmãozinho(a). Elas querem se sentir úteis e percebem que a mãe está convalescendo. Os mais velhos se sentem ‘promovidos’ agora que há um menorzinho dentro de casa que não sabe e não pode fazer nada do que eles sabem e fazem”, explica a psicóloga.
O passo seguinte é esquecer as interpretações psicológicas, de forma a não associar tudo o que acontece com o ciúme do bebê. Trate com naturalidade os eventuais desvios que aconteçam.
“Nossos filhos sabem exatamente o que estamos pensando e sentindo. Por isso, se está claro para os pais que o bebê é um presente e que trará alegria e significado para suas vidas, tenha a certeza de que os irmãos mais velhos também sabem. E eles farão de tudo para ajudar. Então, transmita aos outros filhos que aceitem o novo bebê naturalmente, com amor, alegria, carinho e cuidado e eles farão de tudo para corresponder”, diz Yafit.
“O sentimento de pertencimento fará com que os irmãos mais velhos também se sintam felizes e preenchidos com um novo ser na ‘nossa’ família”, conclui a psicóloga.