O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental. Embora o foco seja frequentemente voltado para adolescentes e adultos, especialistas alertam que o cuidado emocional começa na infância. “A saúde mental é construída ao longo da vida, e a infância é um período crítico para isso”, afirma a pedagoga e gestora escolar Maria Malerba. “Investir no bem-estar emocional das crianças é fundamental para prevenir problemas mais graves no futuro.”
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de pessoas ansiosas no mundo, abrangendo 9,3% da população. Além disso, há um alerta em relação à saúde mental no país, pois uma em cada quatro pessoas enfrentará algum tipo de transtorno mental ao longo da vida.
Maria Malerba ressalta que o manejo adequado de questões emocionais na primeira infância é essencial para o desenvolvimento adequado da saúde mental de um adulto no futuro. “De que adianta formarmos jovens habilidosos em matemática e geografia, por exemplo, mas sem um desenvolvimento social, emocional, que não desenvolvam uma boa comunicação e sem uma maturidade para lidar com frustrações? Precisamos estar atentos à formação da criança em sua integralidade”, explica.
Para ajudar pais, responsáveis e educadores a lidar com a saúde mental dos filhos, a especialista apresenta algumas dicas fundamentais:
1- Estabeleça um ambiente seguro e acolhedor: “Crianças precisam se sentir seguras para expressar seus sentimentos e emoções”, sugere Maria. “Crie uma rotina onde exista espaço para a criança se sentir ouvida e acolhida em seus sentimentos, momentos no dia onde haja espaço para que elas falem o que sentem sem medo de julgamento e repreensão, onde possam expor seus sentimentos sentido-se sempre acolhidos”
2- Fique atento a sinais sutis: “Sabemos que as crianças estão em constante desenvolvimento e as mudanças de comportamento são inerentes a esta fase, de intensa aprendizagem, porém, alterações de comportamento bruscas e persistentes, como isolamento, agressividade ou tristeza, podem ser indicativos de que algo não vai bem”, alerta a pedagoga. “É importante uma presença e escuta sincera das crianças para acompanhar essas alterações, e se após bons momentos de colo e escuta o comportamento persistir, vale a ajuda de profissionais que entendam sobre o desenvolvimento infantil.”
3- Incentive o espaço para expressão e diálogo sobre emoções: “A criança antes dos sete anos não consegue acompanhar diálogos elaborados e grandes explicações, por isso frases curtas mas sempre acompanhadas com uma boa dose de acolhimento e empatia podem ensinar as crianças a identificar e nomear seus sentimentos, ajudando a reduzir a ansiedade e a frustração”, afirma Maria. “As histórias contadas e o trabalho com imagens podem auxiliar nesse processo, abrindo esse canal de comunicação.”
4- Promova momentos de conexão: “A qualidade do tempo que passamos com as crianças é mais importante que a quantidade”, destaca a especialista. “Estar presente, em toda sua atenção voltada à criança em poucos momentos do dia, reforçam laços afetivos e proporcionam um ambiente de apoio e confiança. Você pode querer brincar com seu filho, mas se você é uma mãe ou um pai que não se sente à vontade em brincadeiras, tudo bem, peça ajuda para cuidar da casa, lavar uma louça, ou ajuda para limpar o carro, os momentos compartilhados em família são propícios para conectar e facilitar a troca sincera.”
5- Cuide do seu próprio bem-estar emocional: “Pais e educadores são modelos para as crianças. Quando cuidam de si mesmos, eles mostram que a saúde mental e o bem-estar é uma prioridade”, lembra a pedagoga. “Além de não podermos oferecer algo que não temos, a educação acontece por base da imitação, não adianta querer e direcionar seu filho a uma postura ou ação se essa ação não é a referência e base dos adultos que a cercam.”
Diagnósticos precipitados
Maria faz um alerta aos pais para tomarem cuidado em relação aos diagnósticos equivocados que podem surgir ao detectar um sintoma de ansiedade na criança, por exemplo. “Precisamos estar mais próximos com uma presença ativa das nossas crianças, para observar e entender as causas de seus comportamentos. Os critérios de diagnósticos são abrangentes e a medicação nem sempre é sinônimo de cuidado”, explica.
A terapeuta conclui destacando a importância da colaboração entre família, escola e profissionais de saúde na promoção de um desenvolvimento saudável para as crianças. “Setembro Amarelo é um convite para refletirmos sobre a saúde mental em todas as etapas da vida. E o cuidado, sem dúvida, começa no olhar sobre as infâncias.”