Dieslyn Santos
Em menos de dez dias que Trump assumiu a posse de seu segundo mandato o mercado global mostra toda sua apreensão para as medidas que o novo presidente americano deve assumir nos próximos anos para os EUA e para o mundo.
Logo no dia que fora empossado em 20 de janeiro de 2025, anunciou medidas que deixaram vários países e instituições internacionais preocupados. A saída do país Norte Americano da Organização Mundial de Saúde (OMS), fundada em 1948 especializada em saúde amparada pela ONU (Organização das Nações Unidas), com sede em Genebra na Suíça, tem atuação no combate de doenças transmissíveis como Gripe, HIV e não transmissíveis no caso do câncer e distúrbios cardíacos, com mais de 150 países membros, assim como romper com o Acordo de Paris, tratado internacional com objetivo de diminuir emissões de gases do efeito estufa para conter o aquecimento global e mudanças climáticas, abalaram boa parte do mundo e o mercado financeiro. Cotação do dólar no Brasil chegou a cair quase 0,5%, cotado a R$ 6,04 e a bolsa de valores em São Paulo B3 chegou a subir 0,41%, batendo na casa dos 122.855 pontos.
No dia 22 de janeiro com reforço da proposta de Trump em taxar as importações da China em 10%, valorizou o real que chegou ao câmbio de R$ 5,94, o que não acontecia desde novembro de 2024.
Como o Brasil se posiciona neste cenário? Mesmo com essa instabilidade gerada pelas medidas que Trump vem anunciando ultimamente o Brasil ainda deve ser beneficiado com isso.
A princípio penso que Trump está agindo para inflar sua base eleitoral mais radical e manter o foco das ações globais nele, aliás, a estratégia política do presidente atual não é só marcante nas redes sociais e grande mídia nacional e internacional, mas fundamental, como se mostrou nas suas duas eleições em que se saiu vitorioso, seja falando a verdade ou mentira.
Logo, a deportação de imigrantes e tarifa de importação prometida para vários países, produzirão ainda mais inflação nos EUA, o que mantém a taxa de juros do FED alta. Consequentemente, produz baixo crescimento na América e no mundo, além de escassez de dólares. Já os movimentos das bolsas de valores tendem cair pelo mundo, haja visto que, as maiores empresas além de serem americanas como Tesla, Google, Meta, Apple e Microsoft, têm seus CEOs como parceiros e acordos fechados, principalmente sobre atividades de suas filiais na China, em que o presidente americano promete promover incentivos a elas para diminuirem investimentos na China e criarem novas plantas no próprio país de suas matrizes ou países parceiros.
Se estas medidas forem concretizadas, em pouco tempo os americanos sentirão no bolso e na qualidade de vida os reflexos de tais medidas, via inflação e baixo crescimento do PIB. Lembrando que EUA e nem o resto do mundo se recuperaram completamente da pandemia e da inflação global produzida pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda com taxa de juros em patamares elevados.
No caso do Brasil essa guerra comercial nas tarifas de importações, pode beneficiar o país porque somos o mais produtivo do mundo na produção de commodities agrícolas, principalmente alimentos. Em questão de produtos manufaturados pode haver substituição ou redução no consumo destes itens. Europa, América Latina e Ásia, podem buscar outros mercados para suas importações, principalmente vindos da Índia, China, Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Austrália e Alemanha. As exportações de soja, milho, trigo, algodão, carne bovina e frango dos EUA devem cair neste conflito de tarifas comerciais, situação em que o Brasil e outros países com robusta produção agrícolas podem se beneficiar com abertura de novos mercados e alavancar suas exportações atraindo dólares ou divisas de moedas dos países que compõem o BRICS.
Neste ambiente Brasil reduz sua exposição ao dólar e mantém suas exportações em alta. Momento e movimento importante para poder alavancar a indústria de máquinas, implementos agrícolas, fertilizantes, ferrovias, hidrovias e matriz energética. E para isto acontecer é imprescindível reduzir ou manter estável as contas públicas, inflação, juros moderados aptos para os investimentos com distribuição de renda através do crescimento do produto interno bruto e pleno emprego para aumento de salários.
Dieslyn Santos, economista pela Universidade Federal de São Carlos.
Dieslyn12@gmail.com