O mês de abril é marcado pelo “Abril Azul”, campanha instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e combater o preconceito. O transtorno afeta a forma como o indivíduo se relaciona com o mundo ao seu redor, e é caracterizado pelo comprometimento da interação social, comunicação verbal e não verbal e por comportamentos restritos e repetitivos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o autismo afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo. No Brasil, o número de pessoas com autismo é de cerca de 2 milhões.
Segundo educadores, o ambiente escolar desempenha um papel fundamental na causa do autismo quando proporciona práticas pedagógicas adaptadas, capacitação de educadores e ações de conscientização – garantindo que as necessidades de crianças e jovens autistas sejam respeitadas e que tenham oportunidades reais de aprendizado e socialização.
O ambiente escolar pode desempenhar um papel fundamental em três frentes:
Identificação precoce: professores e equipe pedagógica, por conviverem diariamente com os alunos, podem observar sinais como dificuldades de comunicação, interação social ou comportamentos repetitivos;
Auxílio no desenvolvimento: estratégias pedagógicas individualizadas, como adaptações curriculares, uso de tecnologia assistiva e apoio de profissionais especializados ajudam no progresso acadêmico e social;
Prevenção do preconceito e promoção da inclusão: campanhas de conscientização, palestras e atividades que envolvam toda a comunidade escolar criam um ambiente mais acolhedor.
Além disso, ao promover a empatia e a valorização da neurodiversidade, a escola fortalece a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde cada indivíduo pode alcançar seu máximo potencial.
Instituições de ensino de São Paulo têm desenvolvido iniciativas que garantem a integração desses estudantes, respeitando suas especificidades e proporcionando um ambiente de aprendizado acolhedor e acessível.
Identificação, adaptação e inclusão
Na Escola Bilíngue Aubrick, localizada na capital paulista, a temática da neurodivergência está presente em discussões com a equipe de professores. A instituição adota uma abordagem personalizada para atender alunos, combinando observação atenta, estratégias didáticas diversificadas e integração com a família.
“Nossos educadores buscam formas de assegurar as aprendizagens de todos os alunos. Quando comportamentos nos chamam a atenção ou notamos desafios importantes por parte dos alunos frente às aprendizagens, abrimos um canal de comunicação com a família e, juntos, pensamos na importância de buscar uma avaliação profissional, pois a escola não realiza diagnósticos”, explica a diretora pedagógica Teca Antunes.
Identificadas as necessidades específicas, a escola implementa adaptações e planos personalizados que incluem desde ajustes no ambiente físico até modificações no plano pedagógico. “Cada aluno tem necessidades únicas, alguns precisam de adaptações no material, outros de mais tempo nas atividades, ou de recursos tecnológicos. Criamos, por exemplo, adaptações curriculares e rotinas visuais para alunos que precisam de maior previsibilidade”, complementa Teca.
A escola também investe na conscientização sobre a neurodiversidade de forma natural e respeitosa, com o objetivo de criar um ambiente de convívio respeitoso e de qualidade, em que a diversidade é parte fundamental.
“Trazemos discussões aos alunos e oferecemos palestras às famílias de modo que compartilhem conosco o posicionamento institucional nessa temática. Vemos alunos neurodivergentes bastante incluídos no cotidiano escolar e seus colegas demonstrando naturalidade para lidar com as diferentes demandas. Vemos todos aprendendo e se desenvolvendo a partir dos ajustes feitos em seu percurso”, completa a diretora.
Capacitação, parceria familiar e tecnologia
Na opinião da coordenadora pedagógica da Escola Internacional de Alphaville, de Barueri, Bruna Beatriz Donnarumma, um dos principais desafios na inclusão de alunos neurodivergentes é o estigma social, que pode ser um obstáculo significativo, pois reforça percepções limitadas sobre suas capacidades e dificulta a construção de um ambiente escolar verdadeiramente inclusivo.
“Superar essas concepções errôneas é essencial para que esses alunos também recebam o suporte adequado. Além disso, é importante criar uma cultura escolar inclusiva, em que a diversidade seja respeitada e celebrada”, afirma a coordenadora.
A falta de compreensão sobre as potencialidades desses alunos pode levar à manutenção de práticas pedagógicas padronizadas e inflexíveis, prejudicando a eficácia de estratégias diferenciadas. Por isso, a escola adota um programa estruturado de formação para professores. Além disso, a comunidade escolar é constantemente envolvida, com reuniões periódicas e ações de conscientização.
Bruna destaca um estudante com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que enfrentava dificuldades com a gestão do tempo e a organização espacial. Ao adotar uma série de estratégias de organização, como o uso de agendas visuais e aplicativos de lembretes, além de dividir tarefas complexas em etapas menores, ele conseguiu melhorar seu desempenho acadêmico. “Ele também se destacou em atividades extracurriculares, como robótica, onde utilizou suas habilidades criativas e analíticas para resolver problemas desafiadores. Esse exemplo mostra a importância de um atendimento personalizado e de uma abordagem inclusiva”, diz.
Avaliação multidisciplinar, personalização e conscientização
O Brazilian International School, de São Paulo, capital, aposta em avaliações detalhadas realizadas por uma equipe multidisciplinar. Com base nessas avaliações, são desenvolvidos planos educacionais totalmente personalizados, que podem incluir desde adaptações curriculares significativas até a presença de um mediador especializado em sala de aula.
“A equipe escolar, formada por pedagogos, psicólogos e psicopedagogos, trabalha em conjunto para mapear as necessidades e potencialidades de cada aluno para criar o Plano de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) de cada estudante”, explica o orientador educacional Marcelo Tucci de Freitas.
Segundo Freitas, a instituição desenvolveu protocolos específicos para inclusão, desde adaptações ambientais, como salas com menor estímulo sensorial e flexibilizações curriculares. Essas estratégias ajudam a criar um ambiente escolar mais inclusivo, onde todos os alunos, independentemente de suas diferenças, possam aprender e prosperar juntos.
“Temos alunos neurodivergentes que ingressaram em excelentes universidades a partir das suas próprias escolhas e projetos de vida. Há ainda casos de alunos neurodivergentes que realizaram intercâmbios e participações em programas internacionais e foram bem sucedidos nas suas experiências”, acrescenta o orientador educacional Carlos Augusto Lima.
A escola ainda transforma a conscientização em prática cotidiana, envolvendo alunos, professores e famílias. “Integramos o tema da neurodiversidade no currículo regular. Os alunos aprendem desde cedo a valorizar as diferenças, o que cria um ambiente genuinamente inclusivo. A inclusão e a conscientização sobre neurodivergência nas escolas são processos que envolvem a colaboração de todos os envolvidos”, conclui Lima.