Você sabe o que fazer com as lâmpadas fluorescentes quando elas queimam e você precisa descartá-las? O questionamento é necessário quando sabemos que esse produto contém mercúrio – um dos elementos químicos mais perigosos para a saúde humana, e ainda presente em muitos outros objetos do nosso cotidiano, como termômetros antigos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição ao metal pode acarretar uma série de problemas graves, desde danos cerebrais até complicações respiratórias. Apesar de muitos países terem proibido a fabricação e venda de itens contendo o material após a assinatura de um tratado chamado “Convenção de Minamata”, em 2013, ainda é comum encontrá-los em algumas residências, especialmente nas lâmpadas. Por isso, o descarte desses produtos ainda exige um olhar mais atento, e acima disso, com muito mais ações.
No Brasil, por exemplo, as lâmpadas fluorescentes não são mais produzidas, mas só em 2022, o país teve 12 milhões de unidades importadas. O dado é da Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação – Reciclus, encarregada nacional em coordenar a logística reversa das lâmpadas que contêm mercúrio em sua composição.
O embaixador do Movimento Circular, o professor em Economia Circular, Logística Reversa e Regulação Ambiental Empresarial Flavio Ribeiro, destaca que é preciso reforçar ações de engajamento para fazer o consumidor sair de sua casa e descartar as lâmpadas corretamente.
“Precisamos trabalhar valores e orientações práticas para que as pessoas saibam por que e como isso deve ser feito para uma maior divulgação, educação, conscientização e orientação dos consumidores sobre como lidar com os resíduos de lâmpada de forma adequada para não causar dano ambiental e poder devolvê-los para a destinação adequada – os coletores da Reciclus”, comenta.
Como é feita a logística reversa dessas lâmpadas?
Camilla Horizonte, gerente de Operações e Marketing na Reciclus, explica o processo. “A Reciclus instala coletores em estabelecimentos comerciais e prefeituras por meio de contratos de comodato. Quando atingem 80% de sua capacidade, o responsável solicita a coleta online. As lâmpadas são levadas para uma das recicladoras autorizadas no Brasil, onde são desmontadas e desmercurizadas. O mercúrio é encapsulado e depositado em aterros de resíduos perigosos, enquanto o vidro e metais restantes são direcionados para outras indústrias”.
Os coletores, espalhados por todo o Brasil, podem ser acessados por qualquer pessoa, é só deixar sua lâmpada. Entre 2017 e 2022, 33 milhões de lâmpadas fluorescentes foram recicladas no Brasil pela Reciclus – segundo o relatório da própria associação. Isso equivale a uma média de 5 milhões por ano, número bem inferior aos 12 milhões importados para o Brasil, só em 2022, por exemplo.
Regulamentação
A Reciclus foi criada com base na Lei nº 12.305/10, dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e segue regras governamentais, envolvendo várias organizações do setor de lâmpadas. “Todo o processo das recicladoras e transportadoras é auditado. Venceu, não está mais com a gente. Temos um cuidado muito grande com essa questão da fiscalização.”, aponta Horizonte.
Para o Professor Flávio Ribeiro, a chave do sucesso do setor de lâmpadas, está justamente em algo que é apenas um desejo para vários outros setores: o controle de importação do produto – no caso, das lâmpadas. “O Inmetro faz um controle a cada importação, a cada lote que chega importado de lâmpadas para verificar se aquela empresa que está importando cumpre com as exigências de logística reversa”, explica.
De acordo com Flávio, além disso, existe um entendimento do mercado de que importar lâmpadas para o Brasil significa pagar uma taxa, que atualmente é de 40 centavos por lâmpada. “Existe toda uma estrutura para garantir que cada lâmpada que entre no país recolha 40 centavos para a Reciclus – valor destinado para pagar o seu correto gerenciamento. Esse valor não paga o gerenciamento completo, mas também não são todas as lâmpadas que você pode colocar nos coletores da Reciclus. Ou seja, quem patrocina o trabalho de logística reversa são os próprios importadores de lâmpadas – que precisam estar associados à Reciclus para entrar no Brasil”.