Atualmente, muito se discute sobre o impacto das distrações no processo de aprendizagem. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), 80% dos estudantes brasileiros de 15 anos afirmam se distrair com o uso do celular durante as aulas de matemática, por exemplo. No entanto, pouco se fala sobre o papel do ambiente físico, ou terceiro educador, no desenvolvimento das crianças.
Inspirada na abordagem Reggio Emilia, uma corrente pedagógica originada na Itália, cresce cada vez mais a percepção de que o ambiente tem um papel ativo na construção do conhecimento. Isso leva as instituições de ensino a construírem intencionalmente espaços que acolham e ampliem as múltiplas linguagens infantis, a fim de contribuir positivamente para a experiência de aprendizagem dos estudantes.
Como colocar em prática?
Cada seção da escola, da sala aos corredores, jardins e ateliês, deve ser pensado como um “espaço de relações”, em que a criança pode interagir com liberdade e autonomia. É importante que os materiais oferecidos sejam variados e acessíveis e que haja liberdade de escolha e movimento.
Além disso, é fundamental tornar visíveis os processos de aprendizagem nas paredes, por meio de registros fotográficos, desenhos e mapas mentais. A atmosfera também deve ser cuidadosamente pensada: o uso intencional de luz, cores e sons contribui para criar um ambiente acolhedor que desperte os sentidos e promova o envolvimento.
A escolha dos materiais não é aleatória, mas sim intencional e educativa. Eles não são neutros: provocam investigações, hipóteses e narrativas. Por isso, são valorizados elementos naturais, como pedras, sementes e água; materiais não estruturados, como tecidos, caixas e blocos; e materiais artísticos, como tintas, argilas e papéis variados. Recursos como espelhos, mesas de luz e jogos de sombra também podem ser utilizados para ampliar a percepção e estimular a criatividade das crianças.
Para que isso tudo funcione de forma coerente, é essencial construir uma visão pedagógica compartilhada entre toda a equipe escolar. Se essa compreensão não for coletiva, o espaço corre o risco de se tornar apenas um cenário bonito, sem propósito educativo.
Desafios
Um dos principais desafios é equilibrar intencionalidade e liberdade, criando propostas sem impor caminhos, de modo que o ambiente abra possibilidades sem restringir o pensamento das crianças.
Também é necessário manter flexibilidade e escuta ativa, pois os espaços mudam conforme os interesses dos estudantes, o que exige constante adaptação por parte dos educadores. Valorizar a estética como linguagem pedagógica é outro ponto fundamental, visto que a beleza comunica cuidado, organiza o pensamento e inspira novas criações.
Por fim, superar limitações físicas e institucionais é um obstáculo real, mas não impossível. Ainda que existam restrições, é possível criar ambientes potentes com criatividade, trabalho em equipe e foco na experiência das crianças.
Como envolver a família no processo
Para alcançar resultados ainda mais positivos, é possível organizar projetos que envolvam os responsáveis e criar um espaço especialmente organizado para documentar as descobertas da turma e expor fotos, falas, desenhos e materiais trazidos pelas crianças.
Pensar no espaço escolar como um terceiro educador é reconhecer que a aprendizagem não se limita à transmissão de conteúdos, mas vem do encontro entre o ambiente e as relações, capaz de construir experiências pedagógicas mais profundas, vivas e significativas.